Se eu quisesse me despedir do mundo, não conseguiria nunca me despedir pessoalmente, não tinha estofo para isso, o meu estômago nunca que iria aguentar. Se eu me estivesse para despedir do mundo certamente escreveria uma carta, uma carta sentida, uma carta que nunca invocaria os motivos mas sim as belezas destes vinte e cinco anos que eu vivi…
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Lisboa, 16 de Agosto de 2009-08-16
São 22h37m, pousei no meu mundo para que possa reflectir, entrei no meu estado “Zen” e descobri-me a mim mesmo. Não sei como poderia algum dia classificar a minha vida, nem dar qualquer nota, simplesmente não sei!
Na minha vida, curta vida, fui feliz, infeliz e até mesmo tive momentos de super loucura. Amei e fui amado, mas também senti o ódio e senti que me odiaram também. Vi os olhos de quem sempre me amou e de quem me continua a amar! Senti o vento a soprar-me na cara, senti o calor estrondoso de um mês de verão. Senti a Neve! Senti raiva por Deus e senti que só ele me entendia, senti até que ele nunca me percebeu na vida! Tive uma mãe, a melhor mãe do mundo, uma mãe que sempre me apoiou e sempre soube educar-me, sabia dar-me um puxão de orelhas sem nunca utilizar qualquer dedo da sua mão… Lutei, bati e fui agredido. Sonhei, tive pesadelos, daqueles que nunca os conseguimos compreender! Tive o meu primeiro beijo, e não foi qualquer beijo, foi o primeiro beijo do meu primeiro amor, do primeiro amor que fugiu mas que regressou á minha vida. Tenho um Pai, super protector mas eficaz, um Pai que foi o Homem de quem mais raiva tive mas que se tornou no meu melhor amigo, que me ensinou a ser o que sou, o homem que me tornei, a poder dizer de boca cheia que ele é a imagem de homem que eu quereria ser. Senti os “15 segundo” de alívio em cima de uma onda, magoei-me ao cair dela, mas voltei a querer sentir novamente esses “15 segundos”. Tenho a maior Irmã do mundo, sim tenho, a irmã que me deu a maior alegria da minha vida á data de hoje, o saber que virão duas meninas, a Beatriz e a Maria João, as meninas que serão sem dúvidas os olhos da mãe. Uma irmã ciumenta e sincera… Sempre fomos como o cão e o gato, mas isso é só connosco, mais ninguém se pode intrometer, porque acima de tudo eu sempre a amei. Tive o prazer de conhecer os meus avôs e a minha avó, que apesar de todos os defeitos humanos que possam ter nunca tive qualquer razão de queixa…A minha avó que por muito complicada que possa ser sempre nos ajudou em tudo e sei que sempre me amou bastante. Tenho centenas de tios e tias, uns melhores outros piores mas quem está está, quem não quer estar que faça o seu real proveito da vida! Tenho o meu padrinho e a minha madrinha, adoro-os bastante apesar do feitio da minha madrinha ser bastante complicado por vezes mas no fundo adoro-a… Tenho a minha tia Xana e o meu tio João, para mim como os meus segundos padrinhos. (acho que não preciso dizer mais nada!) Tenho o meu primo que será sempre como o meu irmão mais velho na versão homem, que me deu o enorme prazer de conhecer a minha prima e afilhada Leonor! Tenho a Rita, ou a Frita de quem gosto imenso e a Joaninha a minha cúmplice desde sempre! Tenho amigos, amigos de verdade como também tenho os amigos apenas do “Bom Dia e do Boa Tarde”, aos amigos verdadeiros não pretendo enumerar nomes, não é preciso porque eles sabem quem são e o que sempre fizeram por mim. Tive namoradas, namoradas de quem gostei muito e namoradas de quem gostei pouco, das que sempre tratei bem e das que por algum motivo as fiz sofrer (a essas peço desculpa, apesar de ser contra a minha natureza pois as desculpas evitam-se não se pedem!), tenho a Patrícia Bacelar, o meu primeiro amor, a minha paixão de infância de quem hoje ainda tenho o prazer de a ter como amiga! Tive um melhor amigo, melhor até acho que tive dois, o Paulinho e o Tiaguinho (de quem tenho muitas saudades!), nunca me poderia esquecer da D. Paula, de quem tenho o maior prazer de ter conhecido, uma vez que me aturou bastante durante a minha infância em centenas de tardes inesquecíveis. Tenho o meu amigo e cunhado, o “Shor Peralta”, que apesar de tudo creio que conhece e compreende! A vida deu-me um mestre, o amigo e insubstituível Monge que trouxe consigo o D.Carlone, os dois maiores malucos de St. André!
Não quero que esta carta seja tida como uma despedida, algo de quem tenta deixar tudo em vão, não pelo contrário, apenas sinto que o meu caminho está a chegar ao fim, e que por isso mesmo preferi relembrar todos os bons momentos de que me lembro.
Quero me lembrar dos tempos de criança, em que brincava sem qualquer sentimento de revolta, em que tudo era puro e sincero, quero me lembrar do meu primeiro beijo, debaixo dos lençóis, que pelo que descobri fui apanhado pela minha irmã, que fez o favor de contar a todo o mundo ali presente! Das tarde em que brincávamos na mata, a tudo o que pudesse ser imaginado, do buraco na serra que foi uma casa de família durante várias anos da nossa infância, da quadrilha imparável a quem mais tarde se juntou a joaninha a fazer um quinteto! Quero me lembrar dos verões em que passei nos Olivais na casa do meus avós, das tardes de calções de banho em pleno jardim á frente do prédio a tomar banho através dos regadores automáticos! Das chinchadas durante as tardes com o meu primo, de representar as equipas de bairro como quem representa uma Selecção Nacional. Quero me lembrar do meu sorriso ao receber a minha primeira bola de futebol oferecida pelo meu padrinho, de sorrir por ir á escola e de querer fazer tudo quanto o meu primo mais velho fazia! Gostava de ter passado mais tempo da minha infância ao lado do meu pai, mas sei que não poderia ter sido assim… Lembro-me do seu chuto na bola em direcção ao céu azul numa tarde, em que parecia que eu a perdia de vista… Quero recordar a minha cadela, a minha pantufa, quero me lembrar do seu corpo rechonchudo aquando acabava de entrar pela porta da minha casa a dentro… Gostava de me lembrar do meu primeiro mergulho, do meu primeiro dia de praia e de saber o motivo do meu primeiro sorriso. Recordo-me mas queria voltar a sentir o abraço profundo da minha mãe. Quero voltar a sentir o prazer de crescer, da alegria de poder tirar a carta de condução e da primeira vez que conduzi. Quero recordar do meu sorriso ao receber o primeiro ordenado e da festa que fiz, da primeira vez que me senti um Homem crescido com dinheiro no bolso que não tivesse sido dado pelos meus Pais. Tudo isto foram bons momentos, momentos de quem eu me orgulho muito de ter partilhado com alguém. Agora em adulto, num projecto inacabado de crescimento, de auto-conhecimento sinto que muito do que eu pensava que fosse possível de me acontecer não mais acontecerá, sinto que as forças que tinha dantes desvaneceram por entre a fumaça de nevoeiros que se puseram na minha vida e que nunca mais saíram, das sombras que se apoderaram de mim! Gostava de ser recordado pelo meu sorriso, pela minha alegria, pelas tardes em que sentados na mesa éramos todos felizes. Possivelmente desde há dois anos que não sei o que é ser realmente feliz, que não sei o que é ter o prazer de sorrir e rir com gargalhadas que parecem que nunca mais vão acabar… Este fim-de-semana, que hoje termina, foi um fim-de-semana intensivo, um fim-de-semana que simplesmente voltei à minha infância e sempre com a alegria de quem gosta de mim!
Quereria muito voltar a ser criança, a ser inocente, a querer descobrir toda a essência da vida. Não me arrependo em nada, voltaria a fazer tudo como sempre fiz, e voltaria a fazer muita coisa da mesma maneira que sempre fiz, pois isso foi o que fez de mim o Álvaro David que todos conheceram! Este homem sincero, divertido, protector, mimado mas acima de tudo honesto nos seus sentimentos para com as pessoas que me rodeiam. Como disse inicialmente não quero que esta carta seja de despedida, contudo sei que a mesma corresponde a isso mesmo, a uma despedida provisória… Mas queria que tudo fosse melhor em mim mesmo, e como isso não é possível, não poderei nunca atrasar o comboio que segue no seu rumo.
Vou com a felicidade de que tudo correu pelo melhor e que se não houve melhores situações/vivencias foi porque a vida assim não permitiu… Tenho pena se de algum modo não verei as minhas sobrinhas, mas sei que elas ouvirão falar muito de mim, do tio que não conheceram… Que ouvirão falar das minhas histórias e das minhas doidices, dos meus sonhos e dos meus quereres… Gostava imenso de que viessem com apenas uma coisa minha, a minha força de vontade!
Bem-haja a todos os que na minha vida fizeram sentido, o meu sorriso brilhara sempre só para vós!