terça-feira, 24 de agosto de 2010

Quem diria...

Quem diria um dia que eu seria somente ar, ar que se respira sem fazer falta, que se respira pela simples acção de respirar. Dessa respiração que me atormenta solto o espírito que já esperava ansiosamente para se libertar do corpo, desta sua prisão de angústia e anseios, de medos e vontades inúteis de ser mais do que algum dia poderia vir a ser. Acordar sem sensação de falta é acordar com a sensação de ter errado no caminho das escolhas efectuadas, no caminho que aceitei percorrer sem que tivesse a certeza de um dia vir a conseguir terminar o seu percurso… E na verdade foi mais um dos caminhos que não consegui terminar, um dos caminhos dos quais fiquei a meio, ou mesmo no inicio do seu trajecto.



Quem diria um dia que eu sonharia em não deixar as ilusões de alguém desprotegidas, que não pretenderia magoar ou apagar os sonhos de alguém sem serem os meus? Acordar nos teus braços foi bom, já não o consigo achar da mesma maneira, já não consigo suportar o medo que me impões sem te aperceberes, medo, medo de achar que sim quando no fundo é um não que acho, medo do não que digo quando possivelmente até seria um sim o que teria de ser dito! Já não acho nada mais, perco tudo, não sei jogar mais a esse jogo que todos querem e sabem jogar, eu perco a cada lançamento de dados, a cada carta dada…



Quem diria um dia que eu seria o primeiro a perceber quando as coisas devem ser paradas, quando as coisas devem ser travadas para que ainda se preserve o pouco do muito que sinto, tenho tanto para dar mas não chega a encher meio copo do copo que me entregas para encher… tenho menos para dar do que tu tens para receber, sei, sei que isso tornará na amargura da tua dedicação e posteriormente se tornará também no declínio da palavra “nosso”. Dessa palavra que já empregámos mas que de certa forma não consigo mais empregar, magoa-me a mim saber que o teu mar tem mais caminhos para percorrer mas que de algum modo não os consigo navegar por ignorância da minha pessoa!



Quem diria que tu sabes o que eu não sei, quem diria até que eu seria o primeiro a dar-te razão, quem diria o que disse quando eu fui o primeiro a desdizer tais angustias de promessas não declaradas? Declarar palavras sem sentido, não obrigado! Prefiro não as pronunciar e afogar os seus sentidos no meu peito e na saliva que engulo a seco! Sonho são apenas sonhos, nada mais, deixarei de fazer sonhar alguém com palavras que não posso nem consigo mais transformar em promessas infinitas, deixarei de sonhar também, deixarei de usar argumentos que possam ser utilizados sem razão nata da sua explicação!



Quem diria…



Quem diria um dia…