segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010

Diluvio


Quem disse que a terra girava rápido de mais para que se pudesse acompanhar? Quem o disse enganou-se a si mesmo e a quem o escutava, a terra roda mais devagar agora em que nada me apercebo, apercebi-me somente disso, sem mais nada que houvesse possibilidade de ser percebido… Vivo numa cidade escura, negra, surda e muda, vivo numa cidade fria, fria até mesmo em pleno verão, um frio que não dá para aquecer com mais um cobertor… Vivo sozinho numa cidade que se habita de mais de mil pessoas, mil eternos desconhecidos, pessoas completamente estranhas a cada dia que passa, ou a cada dia que morre! Da minha cidade tenho saudades do tempo em que tudo parecia diferente, em que o grilo que nunca cantou pudesse até mesmo cantar, do pássaro que nunca sobrevoou a minha janela, mas que sempre desejei que sobrevoasse… Da cidade onde moro sinto mais saudades das férias em que me ia embora para viver um mês ao lado de quem via pouco mas conhecia… Estranhamente sinto que o mundo mudou a cada segundo, que o mundo nos ofuscou a vista, que deixou de se vislumbrar com as coisas mais puras que o mundo sempre nos deu, creio inclusive que possa ser um castigo dolorosamente universal! Vivemos ambos á margem de algo que já não conhecemos e o que conhecemos são das histórias dos filmes que passaram para nos soltar mais uma lágrima enquanto enroscados no sofá com mais uma simples caneca de chá… Quero viver, quem não quer? Será perjúrio o sentimento que sinto quando prefiro estar acordado quando durmo? Por vezes desejaria voar para longe, ser varrido de uma verdade sonhada, esperar que o mundo simplesmente parasse e deixasse de me apressar nas escolhas… Apressado… Apressados são os segundos da minha cidade, os segundos que nela vivo, são curtos, são passados no tempo e espaço da inutilidade pessoal. A minha vida torna-se inútil a cada dia que passa, desejaria ser infeliz na decisão de realidades, cidades são cidades, sem sombras nem pesadelos, sem diferenças ou crenças, eu apenas creio que seria bem mais feliz se do tudo que conheço nada conhecesse, aí sim, aí estaria simplesmente sossegado, sentado no sofá da minha sala sem que o mundo pudesse rodar mais do que roda, a felicidade que preciso é oriunda da ignorância que ansiava nunca ter perdido, porque quando a perdi deixei de poder não acreditar! Quem disse que a terra gira mais depressa do que o normal, mais depressa do que eu a posso acompanhar? Nada é o que parece, eu vivo correndo bem á frente da terra, vivo correndo mais depressa do que as minhas escolhas, e é por esse mesmo motivo que não consigo desfrutar das decisões por mim tomadas! Vivo numa cidade cheia de gente que não me diz nada, uma cidade fantasma de sentimentos e convivências, vivo numa cidade de nome e esperanças vastas, tão vastas que se foram perdendo desde que nasceram! Vivo num sonho fechado á espera da noite que teima em não cair, Vivo… Simplesmente vivo e vou vivendo á espera do diluvio!



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