sábado, 23 de outubro de 2010

Nascer, acto que simplesmente tem o seu destino traçado, não o entremeio do caminho mas sim o destino final. Nascer é o acto de coragem mais forte que se sente, é dele que nasce a sensação vitoriosa de ser-mos os mais fortes, de ser-mos os eleitos entre milhões!

Do raciocínio que vou tecendo por entre as teclas de um sistema, que em nada me traduz a sensação de paz, vou desabafando os segredos e jornadas de uma história que nem sequer tem sentido. O caminho que percorro é todo ele cheio de erros e devaneios, cheio de buracos e indecisões... 
Perco-me das ideologias que me vão crescendo pelo tempo que eu próprio vou crescendo, o envelhecer transforma-me num ser tenebroso de sensações e prazeres únicos, o valor atribuído aos bens que me vão sendo apresentados, são deveras mais importantes que a própria nota ou moeda da economia que nunca existiu em mim!
Deixo o ser que vivia em mim, deixo-o abandonado e perdido pelos espaços, um vagabundo,  um tormento para a sociedade que habita dentro do meu corpo.
Confuso?
Certamente a confusão que imagino é somente a que perco na confusão das certezas que vou gerando.
E isso, isso é o que me faz continuar por amor, amor a mim, a minha vida, amor a nunca desistir da batalha que um dia consegui conquistar o direito de a batalhar!






quarta-feira, 20 de outubro de 2010

Eu acredito...

Da noite para o dia, julgo no senso comum das minhas decisões, determinei a vontade de acreditar, acreditar nas coisas, nas pessoas, nos desejos e vontades, determinei em mim uma decisão de simplesmente acreditar em tudo o que respire e não respire, em tudo quanto brilhe e em tudo o que seja fosco... Acreditar no mero sentido da sua essência. Acreditar só porque se acredita, sem questionar, sem duvidar das palavras que oiço ou dos actos que vejo! Que sorte, poder acreditar em tudo outra vez, que sorte em ser novamente puro ao ponto de não ver maldade em nada do que se possa fazer, tudo natural, tudo puramente natural!
Da noite para o dia senti essa necessidade em acreditar em tudo, em acreditar que as mudanças são feitas por nós, que as escolhas são direccionadas e dirigidas pelo nosso costume, em suma, que poderei acreditar apenas ouvindo o ancião de um povo que de certa forma já o deixou de ouvir, eu quero acreditar nas suas sábias palavras, sentar-me e ouvir as delicias que ele tem para dizer, beber a sua sabedoria sem questionar somente porque vivo num mundo informatizado em que o pensamento que já não usamos nos é resolvido por uma máquina, uma mera peça fria que não respira o sentimento que nós tendenciamos a respirar mas que de certa forma tentamos asfixiar!
Da noite para o dia, na noite fria de inicio de inverno, quis acreditar novamente nos sentimentos que nos eram transmitidos e nos valores que nos eram incutidos enquanto jovens, enquanto jovens inocentes que nunca souberam ao certo o poder que tinham e têem nas mãos... Quero acreditar de certa forma que esses sentimentos e valores ainda existem, que não se perderam, que andam somente escondidos e que mais cedo ou mais tarde voltarão para mostrar toda a sua força e todo o seu esplendor!
Da noite para o dia toda a essência de uma realidade se transformou, mudou de sentido, toda uma imagem que parecia a certa, a correcta, tornou-se na obsoleta ideia de ver as coisas enquanto um Homem que não sente que não possui qualquer consciência, e nessa noite, nesse caminho em que a noite vira dia, a consciência que pensava errada mostrou-me a necessidade de repensar as escolhas que já tinha escolhido, criou-me a necessidade voltar a viver pelos velhos costumes, aqueles costumes que pensei nunca um dia virem a ser precisos!


quarta-feira, 6 de outubro de 2010

Confusão...

Seria demasiado óbvio que depois de tantas luas passarem ao meu lado pudesse hoje ficar confuso? Sentado, um café, um amigo, uma conversa, um momento de dilacerações da minha mente, apenas e somente uma confissão. Falo apenas de erros, pesados erros que cometi no infortúnio tempo de uma adolescência que de certa forma sempre foi absorvida por erros! Erros de que hoje me lamento, erros que simplesmente pensaria certamente em os corrigir se isso fosse colocar novamente o sorriso no meu rosto, egoísta? Certamente que sim, transporto o sentido do egoísmo na tentativa de uma felicidade que teima em fugir por entre espaços que não consigo transpor para a tentar novamente apanhar… Seria mesmo o bloqueio de uma comparação desajustada a uma natureza que fez de mim quem hoje sou? Serão os parâmetros de comparação tão injustos que me entreguem ao sufoco da solidão? Serão esses parâmetros do mais cruel que exista para quem se aproxima? Sinto-me por vezes uma animal selvagem, ferido, magoado, com medo de tudo e de todos, com a sensação que tudo o que de bom aparece mais tarde dará a machadada final, uma machadada que deitará por terra todo o esforço que despendi para me ver crescer novamente, um esforço que despendi inutilmente pois nunca cheguei a lugar algum com tanto esforço. Serro os dentes enraivecido como se de certa forma a culpa deste meu pesar fosse de alguém a quem não consigo deitar as culpas, como que querendo arranjar um culpado, e o único culpado que arranjo não passa apenas de uma sombra desbravada por memórias, por memórias que nunca as tive, que nunca presenciei, que nunca vi em forma ou relato próximo. Queria esquecer os meus tormentos, os meus suspiros perdidos em lençóis com cheiro a amaciador, um cheiro doce que por si só já me enjoa de tão suave que me tenta parecer… Confuso? Com que direito poderei eu estar confuso quando jogo com o tabuleiro da minha vida, com peças de vidas que de certa forma se prenderam às minhas regras, a estas regras tão inúteis que me trazem somente o suspiro das minhas desilusões!

Distúrbios, na minha mente desarrumada e perdida de bons costumes, distúrbio de expressão que simplesmente se prendam no invicto espaço temporal de uma sensação que teimo em tentar esquecer e não consigo. Terei perdido eu a real noção do amar? Poderei ter eu perdido o poder de amar, de gostar? Sombras, sombras cinzentas que teimam em pairar na minha cabeça, que me sufocam a cada instante, que me prendem no raciocínio inglório do que é certo ou errado, do que posso ou não fazer, do que simplesmente penso! Terei eu tanto a dizer que nunca o conseguirei dizer? Confuso, extremamente confuso, uma confusão que me afoga nas verdades que não sei distinguir do seu anonimato!



segunda-feira, 4 de outubro de 2010

E agora?


Questiono-me no leito da minha cama aquando da hora de deitar…


E agora?


Será este o meu último sonho? Terei eu lugar a sonhar por entre os esforços de sorrir novamente?


E agora?


Nada sei, não sei o que sou, não sei o que vivo ou como vivo sequer… Do meu corpo nasce o pecado que acende a vela da ressurreição, acende a vela como que fazendo uma mera transacção comercial…


E agora?


Quem sabe ou saberá? Quem poderei eu achar por entre a neblina que paira diante dos meus olhos, e que simplesmente me ofusca e turva toda e qualquer visão real do aparato que simplesmente me cega, quem poderei eu achar e invocar as explicações de todos os meus porquês?


E agora?


Nada de nada, somente um nada redondo que se escreve de forma desafiadora, um nada implícito na sensação de ser somente ar, um ar que seja necessário a alguém!


E agora?


Esqueço os porquês… esqueço os “agora” e deixo que o vento me transporte como que voando num papagaio de papel, sonhando por entre as nuvens de todas as imagens e feitios.


E agora?



Deixo o tempo passar, continuo deitado e aguardo calmamente para que seja entregue o passe para te voltar a ver, sei que me receberás de braços abertos, nesse recanto tão nosso que existe dentro de mim. Sonhar contigo é como sonhar com o mais belo paraíso… Agarrar-te é o meu desejo, cheirar o teu perfume é o calcanhar de Aquiles…

Sombras, sombras cinzentas que se juntam em torno da minha imagem e do meu ser, nuvens que simplesmente se deslumbram com todo o sentido nato de vida, salteadores de paixões, de amores, salteadores de sonhos e promessas que não mais poderá cumprir. Então aguardo, aguardo pela morte, aguardo pela certeza dura e crua que de certa forma somente ela me trará.

 
 

desamparos...

Durante algum tempo assumi a necessidade de autoflagelo como uma necessidade absoluta para que pudesse simplesmente ser o mais forte, ser o elo predominante numa sociedade que de pouco se assemelhava à minha imagem. Continuei na puberdade da ignorância adolescente, tentando mostrar a todos que estavam enganados acerca das opiniões já formadas de uma criança, que até então evoluiu fisicamente e pessoalmente. A minha autoconfiança foi determinante para a derradeira derrota que abriguei nos braços durante períodos em que me via como eterno vencedor, quando na verdade, apenas perdia cada batalha em que entrava. Chamei diversos nomes a essas derrotas, amadureci velhos defeitos para que as derrotas soubessem sempre melhor do que simplesmente o eram, utilizei os defeitos como quando alguém que não sabe cozinhar utiliza as natas para tornar comestível algo que simplesmente é intragável no seu primeiro sabor! De diversas páginas que escrevi sobre mim, nunca escrevi nenhuma que dissesse o que perdia por cada vitória conquistada, nunca mencionei que o sabor da vitória era dissipado pelos efeitos duradouros dos sabores negativos que advinham com aquela felicidade momentânea. O custo dessa vitória era de valores incalculáveis, tinha um custo real muito acima do que eu poderia pagar, mas, tal qual um inconsciente ser humano que aprende algo novo, subestimei a necessidade da aprendizagem desse novo ensinamento, achei que poderia fazer tudo pois já sabia dominar tal sabedoria, enchi de tal forma o peito de um ego impossível que o peito deixou-se rebentar por si só… Morrer no desamparo da imaginação leva a que os meus súbditos pensamentos sejam de sofrimento, de um sofrimento acumulado em décadas de evolução pessoal, em décadas de negação social de mim mesmo para com o mundo. Se morrer, a certeza é que a morte me levará, um dia morrerei, morrerei sozinho aconchegado pelas sombras de uma vida inteira de batalhas que venci sem nunca ter vencido realmente, sem a possibilidade de errar, é que morrerei um dia, e quando morrer desejarei não sentir qualquer angústia por me faltar dizer seja o que for a quem quer que o mereça ouvir. Fecho os olhos, imagino os rostos que me querem bem, os rostos que ao meu lado permaneçam nesta batalha de derrotas incessantes, de derrotas que teimam em não acabar… Serro o rosto aclamando que passe o desejo de deixar de sonhar, já sem imaginar recordo os rostos que fui deixando para trás de uma história que gostaria de apagar, quereria apagar as vitórias, essas sim fazem-me sofrer bem mais que as derrotas, as vitórias que festejei e que hoje não posso festejar, é essa a dor que me deixa angustiado…

Deixo voar os pensamentos, deixo-os voar seguindo o voo migratório das aves que deixaram de passar na minha janela, deixo que os sonhos as procurem e espalhem a magia por alguém que ainda possa sorrir, que salvem algo que em mim já ninguém mais pode salvar.

Sento-me, olho pela janela o mundo incontornável, o mundo imparável… O mundo que não pára, que nunca deixou de evoluir, o mundo que por si só é individualista e frio, um mundo que não se preocupa com mais ninguém a não ser com o seu próprio trajecto. Olho, deixo-me regalar com cada segundo, respiro, suspiro fundo por aqueles segundos que vão ser eternos, expiro, morro sozinho e prisioneiro de uma vontade de ter sido o que não fui, de ter vivido o que não vivi e de ter voado com os meus sonhos quando ainda era possível.