quarta-feira, 30 de dezembro de 2009

Portas

Perguntei ao céu qual a explicação para o tamanho sentimento de revolta que o meu corpo sentia pela vida, perguntei solicitando, quase que obrigando o céu a dar a sua resposta sábia... O céu, esse nada me disse, manteve-se quieto e silencioso, permaneceu no seu negro e angustiante tom a que nos habituou nas noites de inverno! Abri os olhos, rezinguei, perguntei de uma forma mais abrupta o significado deste estranho sentimento, precisava de ter as certezas do que cada espaço desse sentimento queria dizer, era talvez a necessidade da expressão "como pão para a boca"... O sentimento estranhamente manteve-se inalterável, intensificou-se marcando cada bocado do que poderia algum dia vir a sentir, parecendo até ele próprio que queria marcar a sua presença, uma presença possante e até quase vital. Corri, as ruas torneias nos meus esconderijos, esconderijos que facilmente eram decifráveis, esconderijos bem à vista dos olhos de toda a gente! Corri, corri mais um bocado e continuei a correr até que esbarrei contra uma parede, uma parede vinda do nada, uma parede que certamente apareceu como que por milagre! Quatro portas embutidas nessa parede, apenas uma seria a porta pela qual poderia passar e continuar a correr, todas elas deixaram a minha corrida continuar, nenhuma delas trazia um pedaço de alma amaldiçoado, nada disso, eram apenas quatro simples portas diferentes das quais teria que escolher uma para continuar a tão esperada corrida... Qual escolher, qual a porta, onde me levará cada passagem... O medo, o medo encontrou-me bem mais depressa do que eu esperava, o medo de escolher errado levou a que simplesmente não escolhesse nada de nada, não abri nenhuma das portas, sentei-me, apenas sentei-me a meditar sobre a decisão simples de apenas abrir a porta!
Deixei passar o tempo, a idade chegou, as primaveras passarão e os Verões acabaram comigo sentado e, e as quatro portas permaneciam simplesmente fechadas... Levanto-me, olho à minha volta, fixo as portas, os meus olhos circulavam pelas passagens, cada porta um enigma, cansado de enigmas, cansado de ter de escolher coisas difíceis, qual das portas me levaria ao quê? Recuo um passo, dois, meia-volta e corri ao encontro da partida, corri por entre as ruas que me escondiam de uma forma tão fácil de achar, parei... Olhei o céu e reparei que tinha acabado de fazer uma escolha, que tinha acabado de escolher o caminho que não estava diante dos meus olhos, baixei a cabeça e absorvi todos os embates negativos do que nunca pensei fazer! Gritei... "ahhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhh" e nesse ataque de fúria, voltei corri e corri, corri pelas ruas, corri até ás portas, e corri mais um bocado... cheguei ás quatro portas, abrandei mas não parei, sorri, corri pela primeira porta que me apareceu e ... E nada, fiz apenas uma escolha de uma simples porta que em nada tinha mudado a minha vida, caí, deitei-me no chão a rebolar pelo verde verdejante que por baixo de mim brilhava, olhei o céu, já não era mais negro, agora era colorido, colorido como os tons do Alentejo! Sorri novamente e pensei para mim "e agora?" Olhei para cima, para o céu colorido e perguntei gritando " E AGORA?", o céu mais uma vez, apesar de estar com tons bem mais alegres, nada me respondeu... Baixei a cabeça e reparei que tinha que começar a correr de novo para procurar mais portas, apenas com uma diferença, agora não ia deixar que o medo me encontrasse e muito menos deixar aquelas primaveras todas passarem á minha frente! Agora era eu que comandava... Pelo menos era o que pensava!



http://www.youtube.com/watch?v=ew2eWXAWVfc&feature=related

ante-estreia

É a ante-estreia da sequência de mais um ano que poderá ser igual a tantos outros anos, igual a si mesmo, igual nas sensações e nas inoportunas mensagens que deixamos quando não sabemos o que dizer... Ano Novo vida nova...Nunca foi nem virá um dia a ser, ano novo simplesmente nos números que escrevemos depois do respectivo mês!

Este ano que entra sorrirei como sorri neste ano que se encontra a terminar, sorrirei quando tiver que sorrir da mesma forma que chorarei quando tiver que chorar! Não quero pedir nem mais nem menos, quero apenas o que tiver de ser, encontro-me farto de pedir e não receber ou mesmo de dar e não ser aceite! Neve? Branca e fofa tal como o átrio dos meus sentimentos, obscuros e incompreendidos mas que serão sempre os meus, um dia alguém os certamente compreenderá e nessa altura todos sorriremos mais um bocado, mas não será por causa do ano novo ou das passas ou mesmo das badaladas que contarei na respectiva hora dos segundos que rapidamente vão passar, será certamente porque sim... Porque simplesmente teve de ser o que foi, sem mais nada...

Quero um ano sem "porquês" ou "porque não", quero coisas mais simples do que as coisas que por norma eu costumo pintar, quero, mas não sei se será dessa forma uma vez que costumo ser eu a complicar as coisas mais fáceis... Então, tentarei ser mais natural possível e deixar o tempo rolar sem que o apresse, isso pode ser que consiga, o relógio já o deixei na loja, qualquer dia passo lá para o apanhar, contudo agora sinto-me frágil e sem pulso para o tentar trazer a mim!

Champanhe... Manda vir que vou certamente aceitar esse brinde, quero brindar este ano a mim, com ou sem felicidade, com ou sem motivo, apenas vou brindar á minha pessoa sem mais qualquer destino... Hoje o brinde é para mim!

Vai ser mais uma noite escura que se iluminará por breves instantes com o fogo que sairá disparado ao infinito negro do céu que esconde as estrelas, será iluminada por momentos tão curtos como a vida é iluminada pelo amor que divagamos por entre os cortinados do tempo! E ao acabar, ao acabar voltará novamente o negro da noite por quem todos ansiaram durante um ano inteiro.

Ano Novo... Máscaras incandescentes que teimam em tapar mais um bocado os rostos dos que se escondem o ano inteiro.

Bom ano a todos, creio eu!




http://www.youtube.com/watch?v=YwZFlLHmRzY

quarta-feira, 16 de dezembro de 2009

As Palavras Com Saudade dão Sofrimento Ao Viver...


As...

Palavras, de que servem as palavras que escrevo se ficaram apenas presas no papel que não tive coragem de te enviar? De que servirá tal vontade e necessidade de escrever se não for para que as possas ler?

Com...

Saudade, de quem me quer bem, quis bem ou pensa em me fazer bem, desses não sinto saudade, nem sinto... Sou animal, sinto saudade de quem tentou imaginar toda a minha imaginação, de quem bebeu as minhas palavras e fugiu sem porquês, ou explicações!

Dão..


Sofrimento, sinto quando reparo que deixei de dar valor ao passado que já não posso recuperar, ás histórias que já não posso viver, ao que não disse mas devia e aos momentos que perdi por necessidades absolutamente superficiais. Por amor? também já sofri mas prefiro não sofrer mais, tenho as lágrimas completamente secas!

Ao...


Viver... Viver... Viver... Viver zangado, apaixonado, triste, ansioso, delirantemente, feliz, magoado, excitado, pacatamente, mas simplesmente viver, viver ao som das músicas que consigo compor as imaginações da vida que anseio ter... Mas viver com gosto!



...


Sem indiscrição das palavras que nunca te disse e do que poderia te ter dito... Mas essas palavras voaram pelas asas da gaivota que levantou voo ás seis da tarde, naquele dia de sol... Marte já não será certamente o mesmo!

terça-feira, 15 de dezembro de 2009

Dialectos


Noite...

Adormecer cansado de esperar pelo dia...

Esperar...

Acordar na angustia de não mais sonhar...

Sonho...

Não tenho, deixei-os contigo...

Vida...

Perdida no labirinto do significado impróprio da palavra sexo...

Palavra...

Dizeres de letras todas juntas que a nenhum lugar me levam...

Lugar...

Esquecido por entre os muros da consciência que não tive...

Expressões...

Rostos sorridentes que deixaram de sorrir no dia em que sorriram para ti...

Mundo...

Algures perdido entre o lógico e o irreal da metafísica do ilusionismo...

Eu...

Tu...

Nós...

Eu "amo-nós"!

Não a ti, amo as histórias que vivi contigo, não o corpo físico que as viveu comigo...

Eu "amo-nós"...

E tu?


segunda-feira, 14 de dezembro de 2009

halfway


Encontra-me a meio caminho, não consigo caminhar o caminho todo sozinho, quero me encontrar a meio, quero sentir que me procuras, que sentes a minha ausência, que gostas de mim na forma estranha que sentes mas que gostas... Não consigo sozinho, és a fraqueza onde não queria fraquejar mas onde realmente fraquejo, és o sangue frio num corpo ainda mais gelado... Anseio por uma lufada de ar fresco, mas sei que não chega, muros enfraquecem o vento que pouco ou nada sopras, mas se continuares a soprar pode ser que um dia chegue, não negarei esse sopro, não direi que veio tarde, ou que agora é escusado, mas também não esperarei sem que a minha vida avance! Nunca me pediste que esperasse, mas eu esperei, fingi ser o que não sou e mostrei mais do que poderia um dia vir a ser, mas sim, avançarei até te encontrar de novo, até te olhar outra vez, esperarei naquela fronteira que nos colocará novamente a olhar olhos nos olhos, na fronteira que nos colocará mesmo que por breves segundos a dizer qualquer coisa, nem que seja um "oi", de fugida, mas certamente o diremos. Então, sabendo tu que até sinto qualquer coisa que ainda eu não o sei dizer, vamos correndo, sobrevoando as planícies que vão sendo desenhadas no nosso mapa, em mapas distintos, nos mapas que um dia se irão encontrar a meio caminho de cada um nós, e é nesse momento em que ambos percorremos a nossa metade que nos vamos encontrar, na nossa fronteira, e é aí nessa fronteira que eu irei esperar por te encontrar novamente...


http://www.youtube.com/watch?v=_A_arjPCKXA&feature=fvst

sábado, 12 de dezembro de 2009

Tréguas

Amordacei a minha mente, amarrei-a junto da consciência que predominantemente me marcava e catalogava a cada segundo que vivia. Pensei em nunca mais soltar uma palavra que fosse, mesmo que fossem das mais simples e casuais, nunca mais soltaria nenhuma das palavras, as palavras fizeram-me perder a razão, machucam quem as ditou e predominam na subconsciência que nos delimita os sonhos... Dizer as palavras foi como soltar o espírito que tinha em cativeiro, agora, agora já não tenho nada de nada, o espírito já não permanece e nisto vivo num vazio que nunca pensei viver. Olhei em volta e nada me cativava por forma a que não desse o passo, dei, voltei a dar, dei tantos passos que quando dei por mim corria desenfreadamente por entre os espaços vazios que tinha, então corri ainda mais, corri e corri, corria como se a minha vida dependesse disso, mas não dependia, a minha vida já tinha ficado para trás á muito tempo, perdida no areal de uma calçada de momento irónicos. Parei, respirei fundo o que por muito tempo desejei não respirar, respirei, inspirei o fresco sabor do "nada" que nada tinha, levantei a cabeça e voei, já não corria, agora voava por entre os sonhos que deixei de ter, por entre as nuvens que aconchegavam a minha chegada, voei por vários dias e várias noites, voei por entre "nada" do nada que havia para voar!
Corri, voei de mente amordaçada, a minha mente morta tentava ressuscitar e hoje libertou-se de males passados, hoje esses males não a reprimem, hoje esses males sentam-se á mesa com a mente, voam e correm juntos, até um dia, até ao dia em que... Bang...